Eficiência no uso de água

Responsáveis pelo serviço de abastecimento e saneamento de água de suas cidades, as prefeituras do Brasil vivem pressões crescentes para administrar a demanda e oferta de água em suas cidades. A demanda por água acompanha o crescimento dos centros urbanos e o uso predominante pela agricultura. Muitas cidades captam águas em sistemas com capacidades de captação já ultrapassadas. Por final as mudanças climáticas também têm impactos tanto na demanda quanto na capacidade de oferta. Temperaturas mais quentes elevam a demanda por água. A oferta tende a oscilar: as áreas chuvosas tornam-se ainda mais chuvosas e sujeitas a inundações e áreas secas ainda mais secas. Por final a elevação do nível do mar ameaça infraestruturas de abastecimento de água nas cidades costeiras.

Por tanto, o fortalecimento do uso eficiente da água em edifícios públicos, assim como do resto das estruturas urbanas públicas e privadas, é decisivo para que prefeituras consigam prover os serviços e recursos naturais requeridos por uma população urbana crescente. As seguintes políticas públicas são algumas das práticas que prefeituras nacionais e internacionais estão implementando para diminuir o consumo de água em seus edifícios públicos e suas cidades. Como tendem a ser as maiores proprietárias de edifícios ou prédios de suas cidades, com essas práticas, as prefeituras podem servir de exemplo de eficiência no uso da água. Ao reduzir o consumo através dessas práticas, prefeituras economizam dinheiro em suas contas mensais e economizam dinheiro de seus residentes, assim garantindo um desenvolvimento ambiental, econômico e social sustentável.

Benchmarking: Comparação de desempenho de uso de água em edificações

Um dos primeiros passos no caminho para um consumo mais eficiente de água em prédios municipais e privados é o benchmarking. O benchmarking é uma avaliação comparativa que usa um indicador para comparar o consumo total de água de diferentes edificações de uma mesma tipologia. O indicador mais simples é do consumo total diário com relação à área total da edificação. Assim uma prefeitura pode comparar os consumos de suas escolas e observar se uma ou outra escola consome muito mais água por metro quadrado do que as outras. Para fazer esse benchmarking básico é necessário ter dois tipos de informação. Primeiro o consumo total de água de um edifício, seja de água potável ou não, fornecido por medidores, considerando ao menos um ano completo de dados. Segundo é necessário ter a área útil do edifício em metros quadrados (está área exclui áreas de estacionamentos e áreas externas de irrigação). Com estes dois dados é possível extrair esse indicador simples, um número de intensidade do uso de água que pode ser usado para comparação entre prédios:

𝐼𝑛𝑡𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑈𝑠𝑜 𝑑𝑒 Á𝑔𝑢𝑎 = 𝑀é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 𝑑𝑒 𝑢𝑚 𝑝𝑟é𝑑𝑖𝑜 𝑒𝑚 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠 Á𝑟𝑒𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑝𝑟é𝑑𝑖𝑜 𝑒𝑥𝑐𝑙𝑢𝑖𝑛𝑑𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑒 𝑎𝑟𝑒𝑎𝑠 𝑖𝑟𝑟𝑖𝑔𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑚 𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑑𝑜𝑠

Um indicador mais útil é o número do consumo total diário de água dividido por números de usuários ou atividades. Uma escola, por exemplo, pode medir o seu consumo de água pelo número total de alunos que frequentam a escola. A partir desse modelo, um município pode avaliar se o consumo de seus edifícios é considerado eficiente. Globalmente o indicador de consumo mais usado para medir o uso doméstico urbano é o de litros por pessoa por dia. Na Austrália, o consumo doméstico de 50 litros por pessoa por dia é considerado muito eficiente enquanto que um consumo de 210 litros por pessoa por dia seria muito ineficiente. Na Singapura por exemplo, o consumo doméstico de água é de 143 litros por pessoa por dia e as metas da cidade são de continuar reduzindo esse número.

Implementação

A implementação do benchmarking começa como uma política pública que exige a avaliação comparativa de consumo de água e energia para todos os prédios públicos com áreas significativas (por exemplo: mais de 700 m2) e prédios privados com áreas significativas (por exemplo, pode ser iniciado com prédios de 4.500 m2). Para isso, é importante fazer uma análise dos tamanhos dos prédios e propriedades da prefeitura e cidade através da base de dados de propriedades para determinar que tamanhos de prédios seriam relevantes para incluir na política pública. Nos últimos dez anos muitas cidades dos EUA aprovaram legislação exigindo no mínimo a avaliação comparativa de seus prédios públicos (Figura 1), considerando também em grande parte prédios comerciais e de uso doméstico. Em 2016 nas 434 propriedades que fazem benchmarking em Minneapolis o consumo de água caiu em 6%.

Figura 23. Mapa de Políticas Públicas municipais de benchmarking de prédios públicos nos Estados Unidos. Cada círculo representa uma cidade que implementou uma política pública exigindo benchmarking de edifícios. Fonte: adaptado de www.buildingrating.org

Para fazer o benchmarking, é necessário decidir o formato e as datas para entregas de dados pelos proprietários dos prédios. No Brasil, não existe uma plataforma de benchmarking de água no nível federal, como existe por exemplo nos Estados Unidos. O EPA Portfolio Manager (https://portfoliomanager.energystar.gov/pm/dataCollectionWorksheet) do Ministério do Meio Ambiente dos Estados Unidos disponibiliza uma plataforma que é usada por proprietários de prédios para comparar os seus consumos de água e energia com outros no nível municipal, estadual ou federal. A partir dos dados coletados nesta plataforma é possível dar uma nota de eficiência para os prédios.

Uma solução inicial para prefeituras no Brasil é criar uma base de dados dos consumos dos seus próprios prédios municipais e comparar os consumos deles. Como um segundo passo, as prefeituras podem exigir que outros edifícios ou grandes empreendimentos participem desse programa de avaliação comparativa entregando relatórios de consumo de água e energia através de uma plataforma municipal.

Estudos de caso internacionais

Benchmarking em Nova Iorque, EUA

A cidade de Nova Iorque passou legislações em 2009 visando tornar os seus prédios mais eficientes no uso de energia e de água. A primeira legislação foi a lei local 84 de benchmarking de energia e água. Essa lei exige que prédios públicos com mais de 1.000 m2 e prédios privados com mais de 4.650 m2 façam a avaliação comparativa (benchmarking) através da ferramenta do governo federal chamado EPA Portfolio Manager. A ferramenta funciona como um depositório central de dados do Ministério do Meio Ambiente do governo federal sobre a eficiência energética e de água dos prédios. A empresa de água de Nova Iorque (sendo uma empresa pública municipal) fornece os dados automaticamente para o EPA Portfolio Manager facilitando a vida dos proprietários. Esta lei abrange 26.000 prédios na cidade de Nova Iorque que anualmente providenciam os dados de consumo de energia e água. A multa para quem não providencia os dados é de US$ 500 por trimestre, ou US$ 2.000 por ano. A cidade pediu ajuda à equipe de urbanismo da Universidade de Nova Iorque e da ONG Urban Green Council para analisar os dados e criar relatórios. Com seis anos de benchmarking, os edifícios tiveram uma redução de 10% no consumo de energia. Os dados de redução de água não foram divulgados ainda por conta das trocas dos hidrómetros para hidrómetros digitais conectados pela rede de Wi-Fi nos anos iniciais do programa.

Benchmarking em Ontario, Canadá

A província de Ontário no Canadá exige que prédios grandes divulguem os dados de consumo de água e energia a partir do ano 2018 usando a ferramenta de benchmarking dos Estados Unidos, o EPA Portfolio Manager. A província implementou um cronograma exigindo primeiro que começando em 2018 os prédios com 23.000 m2 divulguem seus dados anualmente. Em seguida, no ano 2019, os prédios com mais dos 9.300 m2 terão que divulgar seus dados anualmente. Finalmente, a partir do ano 2020, os prédios com mais de 4.600 m2 terão que informar os seus dados usando o EPA Portfolio Manager. Ao introduzir a exigência ao longo de três anos, o governo da província terá tempo de corrigir os erros iniciais do programa e analisar os primeiros dados recebidos com mais cuidado.

Referências e onde encontrar mais informações 

Ferramenta internacional: EPA Portfólio Manager – para todos os países (página em inglês)

https://portfoliomanager.energystar.gov/pm/dataCollectionWorksheet

Exemplos de indicadores por atividade e notas de eficiência em Sydney (página em inglês)

https://www.sydneywater.com.au/SW/your-business/managing-your-water-use/benchmarks-for-wateruse/index.htm

Faixas de eficiência para uso doméstico de água no Reino Unido (página em inglês)

http://www.mdpi.com/20711050/6/5/2993

Informação sobre benchmarking em Ontário, Canada (pagina em inglês)

https://www.ontario.ca/page/measure-energy-and-water-use-large-buildings

Relatório de benchmarking de NYC (pagina em inglês)

https://www.urbangreencouncil.org/content/projects/new-york-city-energy-and-water-use-2017-report

Exemplo de um relatório de benchmarking da cidade de Minneapolis com 413.000 habitantes (página em inglês)

http://www.minneapolismn.gov/www/groups/public/@health/documents/webcontent/wcmsp-208686.pdf

Etiquetagem de Eficiência de água

A etiquetagem de eficiência de água é uma política pública usada por governos federais para comunicar de forma simples ao consumidor que aquele produto que contém o selo é eficiente no uso de água. A etiquetagem de água de produtos é adotada como política pública federal e implementada por agências ambientais ou de água de vários países. Em países como Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e Singapura existe, assim como existe a etiquetagem de energia, a etiquetagem para eficiência de água que é dada para maquinas de lavar louças e roupas, controladores de irrigação, bacias sanitárias, torneiras, chuveiros e até casas inteiras que seguem os parâmetros estabelecidos do selo.

A etiquetagem de residências é feita através de uma inspeção e certificação de água garantindo um consumo eficiente de água. Os critérios usados pela etiquetagem WaterSense do governo federal nos Estados Unidos são: 1) não devem existir vazamentos visíveis, 2) a pressão de água deve estar abaixo de 60 psi, 3) a temperatura de água quente deve subir 5 graus Celsius em menos de 2,3 litros 4) as bacias sanitárias, pias, e chuveiros devem possuir etiquetagem WaterSense garantindo eficiência, 5) as máquinas de lavar louças e roupas devem possuir etiquetagem EnergyStar que também garante economia de água. Os critérios para uso de áreas externas das casas exigem: 1) controladores de irrigação com etiquetagem WaterSense, 2) equipamento de irrigação instalado por equipe certificada WaterSense, 3) auditoria por um profissional certificado e 4) projeto de jardim inteligente, sendo que ainda são incluídos alguns outros critérios para piscinas e spas.

Implementação

O uso de etiquetagem de água começa com um padrão de etiquetagem nacional, que pode ser implementado facilmente no município através do Código de Obras. Por exemplo, o Código de Obras de NYC adotou o programa de etiquetagem Watersense do Ministério do Meio Ambiente. Todas as construções da cidade devem usar dispositivos hidráulicos que tenham o selo de eficiência do programa Watersense. O mesmo se aplica na Singapura. Para municípios no Brasil poderem implementar o uso de um programa de etiquetagem seria necessário o governo federal criar um selo e um programa que detalhe claramente a eficiência de uso de água dos dispositivos, igualmente, trabalhar com a indústria e laboratórios de testes para testar e aprovar os dispositivos. Atualmente o Brasil não tem um programa de etiquetagem de eficiência de água. Assim, as cidades brasileiras incluem clausulas nos artigos de seus Código de Obras exigindo que as instalações hidráulicas sigam as normas da ABNT. No entanto, a ABNT não divulga tabelas demonstrando os volumes máximos dos dispositivos. A ABNT não é um programa de etiquetagem que comunica as suas exigências por consumos máximos dentro de um programa nacional que visa eficiência no uso da água. Por tanto, algumas cidades incluem clausulas limitando o uso de água dos dispositivos, além de exigir que os dispositivos atendem as normas da ABNT. Florianópolis por exemplo limita o volume de descargas acopladas a 6 litros. As normas da ABNT (5626, 13713, 15097-1, 15206), e inclusive uma que está em desenvolvimento sobre a Conservação de águas em edificações, poderiam servir de base para um programa de etiquetagem no futuro.

Estudos de caso internacionais

Etiquetagem na Austrália

Com graves problemas hídricos, a Austrália foi a primeira a estabelecer um sistema mandatório de etiquetagem para eficiência de água em 2005, chamado Water Efficiency Labelling and Standards (WELS) (Figura 23). A partir deste esquema de etiquetagem a Organização Internacional de Standards (ISO) está desenvolvendo uma etiquetagem internacional. Todas as torneiras, bacias, chuveiros, máquinas de lavar louças e roupas vendidas na Austrália são etiquetadas para eficiência de água. A etiquetagem da Austrália tem três informações: o consumo total de água do produto por uso ou minuto, e as estrelas que indicam maior eficiência de água.

Figura 24. Exemplo de etiqueta do sistema da Austrália com uma nota de eficiência em estrelas e o volume de água por uso

Etiquetagem nos EUA

Os Estados Unidos não têm um sistema mandatório e sim voluntário baseado no poder do consumidor e em parcerias com empresas. Mas algumas cidades ou estados como a Califórnia tornam o uso de produtos com etiquetagem mandatório através do Código de Obras. O país tem um programa que inclui etiquetagem completa de casas com um guia para casas novas (https://www.epa.gov/watersense/homes-specification). Desde que a etiquetagem WaterSense Labelling foi implementada em 2006, estima-se que consumidores economizaram 32 bilhões de dólares nas suas contas de água.
Apesar da etiquetagem ser de responsabilidade federal, a cidade de Nova Iorque exigiu desde 2012 que todos os prédios novos tivessem vasos sanitários, urinais, pias, chuveiros e lavatórios públicos com a etiquetagem WaterSense. Desta forma, todas as reformas de prédios precisam incorporar sistemas hidráulicos que tenham o selo WaterSense.

Referências e onde encontrar mais informações

Informações sobre a etiquetagem na Austrália (página em inglês)

http://www.waterrating.gov.au/

Informações sobre a etiquetagem de água WaterSense nos Estados Unidos (página em inglês)

https://www.epa.gov/watersense/watersense-labeled-homes

https://www.epa.gov/watersense/homesspecification

https://www.epa.gov/watersense/product-specifications

Código de Obras

A implementação de um Código de Obras que exige mais eficiência no uso de água é sem dúvida a ação mais custo-eficiente que uma cidade pode implementar para promover eficiência. Os consumidores futuros se beneficiarão de custos menores e a prefeitura não tem custos com a ação. É por tanto uma das melhores oportunidades a serem exploradas por prefeituras que visam reduzir o consumo de água de seus edifícios e de suas cidades.

Em algumas cidades as regulamentações relacionadas aos prédios também são encontradas no Plano Diretor, ou outros códigos como o Código de Segurança contra Incêndio, por exemplo. Por isso é importante que a administração da cidade revise os códigos em seu poder para criar regulamentações mais rigorosas com relação ao uso eficiente de água.

Muitas prefeituras já usam o Código de Obras como instrumento para tornar o consumo de água mais eficiente. O Código de Obras de Florianópolis por exemplo exige um volume máximo de 6 litros em descargas de bacias sanitárias acopladas e o uso de águas pluviais para irrigação e lavagem de carros.

Implementação

Tomando como exemplos ações de prefeituras internacionais, algumas exigências que prefeituras podem fazer em seus Código de Obras para aumentar a eficiência e também regulamentar o uso de fontes alternativas de água, são:

  1. adoção de um volume máximo de uso para dispositivos hidráulicos (torneiras, chuveiros, mictórios, bacias sanitárias) claramente comunicado com referências as normas técnicas específicas e a proibição do uso de dispositivos que usam volumes maiores;
  2. a micromedição de consumo de água para equipamentos e sistemas como ar condicionado, compressão de ar e refrigeração ou qualquer subdivisão que utilize mais de ~4 metros cúbicos por dia incluindo piscinas;
  3. a instalação de dispositivos hidráulicos eficientes em qualquer reforma significativa;
  4. Facilitar, permitir e/ou exigir o uso de águas pluviais ou recicladas para usos não potáveis sob condições adequadas referindo a normas técnicas específicas como a norma em desenvolvimento pela ABNT para Uso de Fontes Alternativas de Água Não Potável em Edificações;
  5. Proibir o uso de equipamentos de refrigeração e ar condicionado que usam água somente uma vez antes de despeja-la;
  6. a pressão da água dos edifícios deve estar sempre abaixo de 60 psi, já que 50% dos vazamentos acontecem quando a pressão está acima de 66%;
  7. 50% da área externa deve ser permeável.

Estudos de caso internacionais

Código de Obras de Nova Iorque

Em 2009, a cidade de Nova Iorque ingressou em um projeto de reavaliação de seu Código de Obras para torná-lo mais sustentável. Uma força tarefa leu todos os códigos da cidade e fez recomendações nas áreas de energia, água, águas pluviais, saúde e toxicidade, entre outros. Foram 111 recomendações feitas em 2009, das quais 53 tinham sido promulgadas até 2015. As recomendações feitas pela força tarefa também incluíram a operação e manutenção de prédios, o que não é geralmente considerado em códigos de obras. Como 85% dos vazamentos ocorrem na ligação predial (cavaletes, registro e ramal) e 50% dos vazamentos ocorrem em sistemas com pressão acima de 66 psi, é prudente incluir exigência operacionais. Para água, a força tarefa entregou propostas detalhadas de emendas no texto atual do código de encanamento e administração da cidade. As novas leis também exigem que 50% das áreas externas de prédios sejam permeáveis. A Tabela 6 mostra o volume máximo de água para dispositivos hidráulicos no Código de Obras da cidade de Nova Iorque desde 2010.

Tabela 6. Volume máximo de água de dispositivos consumidores de água no Código de Obras da cidade de Nova Iorque desde 2010 Fonte: Site da Prefeitura de Nova Iorque

Código de Obras Sustentável do Estado da Califórnia

Outras cidades e estados dos Estados Unidos também criaram códigos de construção mais sustentáveis. A Califórnia foi o primeiro estado americano a estabelecer em 2010 um Código de Obras contemplando quesitos de sustentabilidade chamado de California Green Standards Code (CALGreen). Este Código de Obras estabelece normas mínimas mandatórias para construção de obras no estado de Califórnia, e inclui estacionamento para bicicletas mandatórios, espaço para carregamento de carros elétricos e normas de eficiência energética. Com relação a água, este código pede micromedição de água para qualquer apartamento, prédio ou sistema que use mais de 3,8 m3 por dia. Os requerimentos para os dispositivos hidráulicos são mais exigentes do que os de Nova Iorque (a Califórnia sofre com mais problemas de secas). Outra exigência de novas construções é que toda área irrigada use somente água cinza ou água pluvial.

Referências importantes e onde encontrar mais informações:

Criando um Código de Obras mais sustentável na cidade de Nova Iorque – Site da Prefeitura (páginas em inglês)

http://www.nyc.gov/html/gbee/html/codes/proposals.shtml

http://www.nyc.gov/html/gbee/downloads/pdf/water_efficiency.pdf

Código de Obras do Estado da Califórnia para uso comercial e residencial (página em inglês)

https://www.documents.dgs.ca.gov/bsc/CALGreen/CALGreen-Guide-2016-FINAL.pdf

https://www.documents.dgs.ca.gov/bsc/CALGreen/2016CALGreenMandatoryChecklist.pdf https://www.documents.dgs.ca.gov/bsc/CALGreen/2013CALGreen-AppA4-July-1-2015-Supplement.pdf

Guia da Agência Nacional de Água – Conservação e Reuso de Água em Edificações

http://az545403.vo.msecnd.net/uploads/2014/08/conservacao-e-reuso-de-aguas-2005.pdf

Normas ABNT de Conservação de Água em Edificações

http://www.abnt.org.br/imprensa/releases/5329-conservacao-de-agua-em-edificacoes

Retrofits

A longa vida útil dos edifícios requer a implementação de políticas públicas para gerar mais eficiência no consumo de água dos prédios existentes. Para grandes consumidores de água em cidades com desafios de abastecimento, é necessário fazer uma auditoria e avaliar a possibilidade de retrofits. Muitas vezes a readaptação para um menor consumo de energia levará a economias no consumo da água e vice-versa.

Um dos maiores exemplos de programas de retrofits de água no Brasil é o programa do PURA-Sabesp no Estado de São Paulo. Mais de 1.000 propriedades públicas fizeram parte do programa, cujos resultados foram economia de mais de 40.000 m³ de água e redução de R$ 1 milhão em custos mensais.
Com os dados de consumo de ao menos um ano, é recomendável fazer uma pre-auditoria inicial do prédio para verificar a existência de vazamentos no sistema de distribuição. Vazamentos podem ser a grande fonte de ineficiência no consumo de água de edifícios. Grandes vazamentos normalmente ocorrem logo no início do sistema de alimentação. Para fazer uma pre-auditoria inicial do sistema de distribuição é necessário:

  1. determinar o abastecimento total de água do prédio por um ano;
  2. calcular as somas de micromedição;
  3. fazer uma estimativa de uso por irrigação, limpeza de pátios e outros usos sem micromedição;
  4. adicionar os números dos passos 2 e 3 e dividir pelo número do passo 1;
  5. Se o resultado do número 4 for menos que 0,9, uma auditoria em escala completa do sistema de distribuição é necessária, já que esse número indica que há mais do que 10% de perdas por vazamentos no sistema de distribuição.

Na maioria dos casos, problemas regulares de vazamentos devem ser tratados com uma diminuição da pressão de água no conjunto de prédios. A Tabela a seguir mostra volumes estimados de perdas em litros por dia e mês para diversos equipamentos.

Tabela 7. Volumes estimados de perdas em litros por dia e mês. Fonte: Conservação e Reuso da Água em Edificações, Agência Nacional de Águas – ANA

Implementação

O primeiro passo para implementar uma política pública de auditoria e avaliação para retrofits é criar a exigência para prédios públicos. Cidades e governos federais estão exigindo por lei auditoria de prédios públicos, sendo que algumas cidades nos Estados Unidos estão exigindo também auditoria para prédios privados. O município deve criar um formulário e pedir que todos os prédios com determinada área útil enviem seus relatórios de auditoria e propostas de retrofits para redução no consumo de água e energia.

Com relação aos prédios públicos, muitas prefeituras têm uma equipe de eficiência/sustentabilidade ou de gestão de ativos que implementam essa política pública interna, fazendo as auditorias para determinar que tipos de retrofits poderiam resultar em economias de água no longo prazo. Ou é possível exigir esse programa da concessionária de água.

A auditoria do consumo do prédio é feita por uma empresa especializada. Para isso é necessário levantar: 1) os custos por metro cúbico consumido (incluindo taxa de saneamento); 2) os ocupantes do prédio (feminino, masculino); 3) os equipamentos existentes no prédio (número de dispositivos hidráulicos, resfriamento de passagem única, torre de resfriamento, cozinha industrial, lavanderia, equipamento médico, área de lavagem de carros, sistemas de irrigação e especificações); 4) É necessária também a realização de uma pesquisa no prédio através de uma visita onde são analisados: a) as horas de operação e rotinas do prédio, b) taxas de fluxo dos equipamentos listados no número 3, c) a condição dos equipamentos, d) os modelos e números do equipamento, e, e) oportunidades para eficiências de zero a baixo custo.

É possível estimar o uso por dispositivos hidráulicos com base na taxa de fluxo do dispositivo, o número de ocupantes e uso por dia dos ocupantes masculinos e femininos. O uso da torre de refrigeração pode ser estimado baseado na capacidade de refrigeração e o fator de carga, e, o uso de água para equipamentos de cozinha e laboratório podem ser estimados com base no uso por ciclo e na frequência de ciclos. A figura 29 abaixo demonstra a porcentagem de redução possível e o tempo de retorno sobre o investimento.

Tabela 8. Reduções médias possíveis e tempo de Retorno sobre Investimento (R/I). A representa um retorno em até 2 meses, B, um retorno entre 2 e 5 meses, C, entre 5 a 9 meses. Fonte: Conservação e Reuso da Água em Edificações, Agência Nacional de Águas – ANA, 2005.

Estudo de caso Nacional 

Auditoria de edifício público na Bahia  

A Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. fez um retrofit nos sistemas hidráulicos em 2008 no prédio de sua sede administrativa. A equipe gestora de água começou pela caracterização da edificação, incluindo o levantamento do número de dispositivos consumidores de água e do consumo específico no restaurante e na lavagem de veículos. Em seguida, foram aplicadas medidas para redução do consumo de água, considerando a instalação de 66 torneiras automáticas, 60 bacias sanitárias eficientes e outras medidas, alcançando uma redução de 24% no consumo de água do edifício. 

Estudo de caso internacional 

Auditoria e retrofits em Los Angeles, EUA  

A cidade de Los Angeles no Estados Unidos, promulgou uma lei em 2016 exigindo auditoria e retrofits de energia e água de prédios públicos com mais de 1.400 m2 e prédios privados com mais de 1.800 m2. A lei é a mesma que exige benchmarking para água e energia. Com relação a auditoria de água, o município exigiu que a auditoria incluísse análise do: 1) sistema de distribuição de água na edificação, 2) sistema de irrigação 3) sistemas de reuso de água e 4) piscinas ou cascatas de água. A lei oferece isenções para edifícios com redução comprovada de consumo de 20%, considerando os últimos 5 anos, ou recente readaptação comprovada dos equipamentos da edificação. 

Chuveiros da Agência do Governo do Condado de Cobb para a Universidade Estadual de Kennesaw (KSU), Georgia, 2014.   

A agência do Governo do Condado de Cobb para sistemas a água ofereceu 9,5 mil dólares para a compra de chuveiros com sensores etiquetados, para os dormitórios e vestiários da Universidade Estadual de Kennesaw. Os chuveiros nos Estados Unidos são etiquetados pela United States Environmental Protection Agency (EPA) e consomem no máximo 2.0 gpm (7,57 litros), sendo que os modelos convencionais consomem 2.5 gpm (9,46 litros). 

Com isso, foram adquiridos 3.600 chuveiros de 1.5 gpm (5,67 litros) com sensores e a universidade executou todo o trabalho de retrofit das instalações, além de testes-piloto e uma campanha de conscientização dentro do campus. 

Após as reformas, em apenas 6 meses, a universidade conseguiu economizar 666,000 galones de água, o equivalente a 2,5 milhões de litros, cerca de 28% do consumo total de água utilizada nos dormitórios. Isso representou uma economia de 6,5 mil dólares, ou seja, o tempo de retorno do investimento, payback da medida, foi menor do que 1 ano. 

Fonte: EPA: https://www.epa.gov/sites/production/files/2017-01/documents/ws-commercial-casestudy-cobb-county.pdf 

Referências e onde encontrar mais informações

Exemplos de retrofits para redução de consumo de água em Edifícios de São Paulo, 1999

http://www.sef.usp.br/wp-content/uploads/sites/52/2015/08/PUERHE_%C3%81gua-BT_Oliveira.pdf

Guia completo de Conservação e Reuso da Água em Edificações, Agência Nacional de Águas – ANA, 2005

http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sge/CEDOC/Catalogo/2006/ConservacaoEReusoDaAguaEdificacoes.pdf

Gestão da Água em Edificações Públicas: A Experiência no Prédio da Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. – EMBASA., L.C.A. Santos, 2010.

http://www.teclim.ufba.br/site/material_online/dissertacoes/dis_luiz_carlos2010.pdf

Programas da PURA-Sabesp

http://site.sabesp.com.br/site/imprensa/noticias-detalhe.aspx?secaoId=65&id=7765

http://www.cobrape.com.br/det_noticia.php?id=262

https://www.arcadis.com/pt-br/brasil/o-que-fazemos/nossos-projetos/latin-america/brasil/programa-pura/

Guia de Eficiência de Água para Prédios de Singapura, 2018 (página em inglês)

https://www.pub.gov.sg/Documents/PUB_Water_Efficiency_Guidebook.pdf

Programa e Leis de Eficiência de Água e Energia para edifícios de Los Angeles, EUA (página em inglês)

https://www.betterbuildingsla.com/

Infraestrutura Verde para Drenagem Urbana

A infraestrutura verde é aplicada primeiramente para armazenar e distribuir água da chuva ao longo da bacia hidrográfica urbana assim modulando a qualidade e até a quantidade da água que flui. Ela é feita de estruturas multifuncionais permeáveis que empregam a vegetação e outros recursos ecológicos e que podem ser implementadas de maneira descentralizada no espaço urbano. Considerada uma forma alternativa ou complementar às tradicionais soluções de engenharia empregadas nos sistemas de drenagem urbana, a infraestrutura verde emprega soluções baseadas nos sistemas naturais. Gera, portanto, os benefícios da natureza que foram retirados com a urbanização e impermeabilização do solo. Os benefícios adicionais são: ar mais limpo, prevenção de inundações, mais habitat natural, armazenamento de carbono, diminuição do aporte de sedimentos nos corpos de água que, além de responsáveis pelo assoreamento dos rios, deterioram a qualidade da água.

Também pode ser utilizada como instrumento para mitigação de ilhas de calor urbana. Além disso, os espaços verdes da cidade, quando incorporam esses tipos de arranjos, apresentam funções que vão além do lazer e contemplação, ou seja, tornam-se parte importante da estrutura de suporte da cidade. As principais formas pelas quais a infraestrutura verde pode ser implementada, encontram-se a seguir.

  • Jardins de chuva

São áreas em depressão que captam, retêm e tratam as águas pluviais. Eficientes no processo de filtragem e remoção de poluentes da água, diminuem também a velocidade do escoamento por meio da retenção que promovem, sobrecarregando menos o sistema de drenagem como um todo. Assumem diversos tamanhos e se distribuem em áreas não lineares podendo ser implantadas em praças, estacionamentos, áreas de lazer ou uso residencial. A manutenção é similar àquela de jardins comuns, mas com especial cuidado após chuvas, incluindo a remoção de resíduos que podem se acumular na tubulação (Figura 30).

Figura 26. Seção esquemática de um jardim de chuva e fotografia de um jardim Fonte: https://www.portlandoregon.gov/bes/article/127474

  • Canteiros Pluviais

Podem ser aplicados em locais onde o espaço é mais limitado e seguem os mesmos princípios, quanto à filtragem e retenção de água, que os jardins de chuva. Recomendadas para locais onde o solo apresenta boa capacidade de drenagem, sua manutenção é simples, devendo ser inspecionada quanto ao acumulo de sedimentos e saúde da vegetação (Figura 31).

Figura 27. Seção esquemática de um canteiro pluvial e fotografia de um canteiro implantado ao longo de uma via, sobre o passeio público Fonte: https://www.portlandoregon.gov/bes/article/127476

  • Biovaletas

Alternativas às tradicionais valetas, as biovaletas são densamente vegetadas e oferecem assim, um espaço onde as águas da chuva podem correr de forma mais lenta, ao mesmo tempo em que são tratadas. São mais facilmente implantadas ao longo de vias, passeios públicos e estacionamentos, por apresentarem distribuição mais linear. Sua manutenção requer, como em outras tipologias, cuidado após chuvas, com especial olhar sobre as condições de erosão em suas bordas (Figura 32).

Figura 28. Seção esquemática de uma biovaleta e fotografia de biovaleta implantada em estacionamento Fonte: https://www.portlandoregon.gov/bes/article/127473

  • Lagoas Pluviais

Grandes depressões ou no próprio nível do solo, apresentam os mesmos princípios dos jardins de chuva e são capazes de receber maiores volumes de água, de modo a prevenir enchentes, já que apresentam grande capacidade de armazenamento. Proporcionam a criação de habitats, inclusive para predadores de insetos, evitando assim, a sua proliferação. Podem ser implantadas em diversas áreas desde que estas suportem as suas dimensões. Podem ser comparadas com os chamados “piscinões”, mas diferentemente destes, desempenham funções ecológicas importantes, além de proporcionarem a possível criação de espaços de lazer. São mais custo efetivas do que muitas pequenas construções (Figura 33).

Figura 29. Lagoas e jardins de manejo de águas pluviais – Parque Manancial de Águas Pluviais, China Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-166572/parque-manancial-de-aguas-pluviais-slash-turenscape

  • Alagados construídos

Esse tipo de estrutura faz uso das funções presentes em ecossistemas naturais, para tratamento de águas residuais, por meio de microrganismos, sem, necessariamente, emprego de agentes químicos. Não requer grandes cuidados de manutenção e não produz odores, uma vez que a sua configuração mantém os volumes poluídos abaixo das áreas de superfície. Além disso, pode apresentar aparência bastante semelhante a um alagado natural, como mostra a Figura 30, do Parque Houtan, em Shangai, China, onde o alagado construído apresenta extensão de 1,7 km (Figura 34).

Figura 30. Alagado construído, Parque Houtan – Shangai Fonte: http://aguasclarasdoriopinheiros.org.br/wetlands/boas-praticas/parque-houtan-em-shanghai/

A purificação da água ocorre em várias etapas e é beneficiada pela presença da vegetação, que pode ser de quatro tipos principais: flutuantes, emergentes, macrófilas fixas submersas e de solo filtrantes. Economicamente, pode ter papel estratégico na diminuição de custos de tratamento de esgoto, além de que pode ser implantado em lotes residenciais ou comunidades, como ferramenta de tratamento das águas pluviais coletadas, por exemplo, a partir de telhados, bem como águas cinzas, decorrentes de processos domésticos, como lavagem de roupas e louças, e banho (Figura 35).

Figura 31. Seções esquemáticas de alagados construídos Fonte: Salati apud RIBEIRO, 2010.

Floresta urbana

Formada pelo conjunto de espaços verdes, como parques, praças e ruas arborizadas, que se conectam e se distribuem ao longo dos espaços urbanos. Além de apresentar efeitos comprovadamente positivos quanto à mitigação de ilhas de calor, prestam serviço eficaz na diminuição da poluição do ar. Quando há adequado manejo de espécies vegetais, sobretudo arbóreas, há a criação de diferentes habitats para a fauna local. A integração entre diferentes espaços com vegetação que os corredores verdes podem prover, são incentivo à manutenção e proteção dos cursos de água, além de potencial criação de espaços de lazer.
Implementação

Como estratégia de drenagem dentro de uma bacia hidrográfica, a infraestrutura verde pode ser implementada de várias formas. As principais tipologias adotadas para fins de drenagem, são os jardins de chuva, canteiros pluviais, biovaletas, lagoas pluviais. O solo desses sistemas absorve e filtra a água. Em seu interior, há microrganismo capazes de remover poluentes, o que é ainda complementado pela vegetação, que promove diminuição da poluição do ar, promovendo também menor aquecimento deste, em comparação aos materiais inertes.

A implementação envolve agentes públicos e privados, com fundamental participação comunitária, já que esse tipo de estrutura, afeta diretamente o cotidiano de vizinhanças e outros espaços da cidade. Em grandes projetos, é preciso a elaboração de um plano de viabilidade que envolve desde os estudos iniciais, até implantação da infraestrutura verde e envolve os passos conforme colocados na Tabela 7.

Tabela 7. Passos para implantação de infraestrutura verde

Estudo de caso internacional

High Point, Seattle – Estados Unidos

O bairro de High Point, na cidade de Seattle, nos Estados Unidos, passou por um processo de requalificação, entre 2000 e 2010, por meio da implementação de um projeto da Secretaria de Habitação (Seattle Housing Authority) da cidade, que contou com financiamento público e privado. O objetivo principal, era transformar o bairro, originalmente construído em 1942, em uma região atraente para novos moradores, empregando projeto sustentável e de qualidade, como forma de promover melhores condições de saúde e senso comunitário.
Além das novas unidades habitacionais, distribuídas em 25 quadras, o projeto trouxe redesenho de parte das vias públicas e um sistema de drenagem natural. Houve plantio de cerca de 3.000 novas árvores e implementação de sistemas de infraestrutura verde, sobretudo como forma de promover melhores condições de escoamento para as águas que antes poderiam sobrecarregar o rio local. Foram utilizadas biovaletas, jardins de chuva pavimentos permeáveis, sendo que, boa parte da água captada na região é conduzida para uma lagoa de retenção, dimensionada para abrigar volumes de grandes tempestades (Figura 36).

Figura 32. Biovaletas e jardins de chuva implementadas ao longo de vias em High Point Fonte: http://www.svrdesign.com/high-point-redevelopment/

O uso de tecnologias tradicionais de drenagem não foi dispensando, no entanto, o emprego de infraestrutura verde foi capaz de criar um sistema com melhores condições de absorção das águas pluviais, que além de torna-las mais limpas, previne alagamentos. Pela inovação e escala empregadas no projeto, High Point tornou-se referência para empreendimentos em todo os Estados Unidos e foi reconhecido por meio de diversas premiações.

Estudo de caso internacional

Infraestrutura Verde e Azul em Copenhagen, Dinamarca

Inspirados no Programa de Infraestrutura Verde de NYC, que usa jardins de chuva e canteiros pluviais para gerenciar 10% das áreas impermeáveis da cidade, a administração municipal de Copenhagen foi a NYC aprender sobre o programa. Copenhagen lançou em 2012 o “Plano de Gerenciamento de Aguaceiras” de 20 anos para gerenciar chuvas fortes com o objetivo de gastar menos dinheiro usando uma combinação de encanamento e infraestrutura verde/azul para construir estruturas que gerenciassem o alagamento. Esse plano/programa faz parte do planejamento de mudanças climáticas da cidade (Figura 38). O plano levantou 300 ações em 7 bacias hidrográficas que podem ser implementadas e que serão discutidas anualmente para implementação baseada nas prioridades da cidade. Os custos serão pagos com as tarifas que os consumidores pagam por água na cidade.

Fig. 38. Ilustração de um dos projetos de Copenhagen para gerenciar as águas pluviais e adaptar a mudanças climáticas usando infraestrutura verde/azul. Fonte: ICLEI http://resilient-cities.iclei.org/fileadmin/sites/resilientcities/files/Resilient_Cities_2013/Presentations/C3_Rasmussen_Hauber_RC2013.pdf

Referências e onde encontrar mais informações

Sobre o projeto do bairro High Point, Seattle, EUA (páginas em inglês)

http://www.svrdesign.com/high-pointredevelopment/

https://www.seattlehousing.org/about-us/redevelopment/high-point-redevelopment

Tese de doutorado: Urbanismo Ecológico, do princípio à ação: o caso de Itaquera, São Paulo, SP (AKINAGA, 2014)

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-29072014-152959/pt-br.php

Jardins de chuva na cidade de São Paulo

http://ciclovivo.com.br/mao-na-massa/permacultura/jardins-de-chuvaestao-surgindo-pela-cidade-de-sao-paulo/

Publicação sobre Infraestrutura Verde do CREA-MG, 2018. Água: a engenharia e a sustentabilidade

http://www.crea-mg.org.br/images/es-agua-ptbr.pdf

Informações sobre o Plano para Gerenciamento de Aguaceiros de Copenhagen, Dinamarca

https://climate-adapt.eea.europa.eu/metadata/case-studies/the-economics-of-managing-heavy-rains-andstormwater-in-copenhagen-2013-the-cloudburst-management-plan/cloudburst_management_plan_2012.pdf

https://climate-adapt.eea.europa.eu/metadata/case-studies/the-economics-of-managing-heavy-rains-andstormwater-in-copenhagen-2013-the-cloudburst-management-plan/#objectives_anchor

Livro: Desenvolvimento de Baixo Impacto – Um Manual de Projeto para Áreas Urbanas, preparado pela UACDC, Universidade de Arkansas, 2010 (página em inglês)

http://uacdc.uark.edu/work/low-impact-development-adesign-manual-for-urban-areas

Relatório: Análise espacial da estrutura verde na Europa, preparado pela Agência Europeia de Meio Ambiente (EEA), 2014 (página em inglês)

https://www.eea.europa.eu/publications/spatial-analysis-of-green-infrastructure

Tese de doutorado: Infraestrutura verde – uma estratégia de conexão entre pessoas e lugares – Por um planejamento urbano ecológico para Goiânia (RIBEIRO, 2010)

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-31052010-150556/pt-br.php

Informações sobre o parque Houtan em Shangai, China

http://aguasclarasdoriopinheiros.org.br/wetlands/boaspraticas/parque-houtan-em-shanghai/

Gestão de Demanda de água

Descrição

A gestão de demanda de água é uma metodologia de planejamento usada para prever, planejar e gerenciar a demanda de água de um município ou de um grupo de unidades consumidoras. Os programas de gestão de demanda normalmente são utilizados por empresas públicas de água e saneamento e prefeituras para reduzir o consumo de água do município ou de um sistema, assim assegurando a sustentabilidade dos recursos hídricos e custos mais baixos para consumidores do município no longo prazo.

O programa de gestão de demanda da ilha de Singapura é um trabalho contínuo desde os anos 90. A cidade reduziu o consumo doméstico de água de 165 litros por dia por pessoa em 2003 para 140 litros por dia por pessoa em 2017 com reformas. A cidade de NYC, que já teve outros programas de redução de consumo nos anos 90, tem um programa de gestão de demanda que almeja uma redução de 5%, ou 190 mil metros cúbicos por dia no consumo total de água da cidade de 2015 até 2019. A gestão de demanda de água pode ter metas de redução total de água ou por uso/pessoa, a Singapura tem uma meta de consumo doméstico por dia por pessoa.

A gestão de demanda começa com uma meta de redução. Muitos prédios ineficientes poderiam reduzir seu consumo por 30% ou mais com ações tecnológicas e de gestão do consumo. No entanto, é mais prudente estabelecer metas alcançáveis para começar (5% a 15% de redução por exemplo) com base nos dados de consumo.

Implementação

Os passos para estabelecer um programa de gestão de demanda são os seguintes:

Estudo de Caso Nacional

Programa de Uso Racional da Universidade de São Paulo

O Programa de Uso Racional de Água da Universidade de São Paulo, PURA-USP é um exemplo brasileiro de como uma instituição pública fez a gestão de demanda de água dos seus prédios. Desde o início, em 1998, foi definido um sistema permanente de monitoramento e gestão da demanda, através da instalação de hidrômetros e de um sistema remoto de medição que permite, em uma central de controle, o acompanhamento diário do consumo de água do campus. Este sistema permite que elevações inesperadas de consumo sejam rapidamente percebidas, localizadas, diagnosticadas e corrigidas. O programa foi implantando em cinco etapas: 1) Aprofundamento do diagnóstico da situação; 2) Redução de perdas físicas; 3) Redução da demanda nos pontos de utilização; 4) Caracterização dos hábitos e racionalização das atividades que consomem água; 5) Divulgação, campanhas de conscientização e treinamentos. Desde o início do PURA-USP, a população do campus cresceu em 13,3%, e foi registrada uma redução de 41%, de 137.881 em 1998 para 81.005 m³/mês em 2013.

Figura 34. Resultados do Programa de Uso Racional de Água da USP 1998-2013. Fonte: PURA USP

Estudo de Caso Internacional

Gestão de Demanda de Água em NYC

O programa de gestão de demanda da água da Cidade de Nova Iorque de 2014, chamado “Água para o Futuro”, estabeleceu a meta de reduzir o consumo de água da cidade como um todo por 5% entre 2014-2019 devido à necessidade de reduzir o volume de abastecimento para que obras sejam realizadas em 2020. O programa de gestão de demanda tem cinco pilares: 1) programa de retrofits em prédios municipais (500 escolas, 14 estações de tratamento de esgoto, 1.000 prédios de habitação pública, 400 chafarizes de parques, 21 faculdades, 12 prédios de bombeiros e 37 centros de recreação); 2) programa de troca de bacias sanitárias em edifícios privados; 3) programa para reduzir consumo em setores não residenciais da cidade (hotéis, hospitais, restaurantes); 4) otimização do sistema de distribuição com expansão do time de busca de vazamentos e 5) revisão e preparação de medidas tarifárias, de uso restrito e outras ações para períodos de falta de abastecimento. Esses cinco programas somam a meta de 190 mil metros cúbicos em água economizada diariamente em NYC.

Referências e onde encontrar mais informações

Perdas de Água nas cidades Brasileiras

http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/uploads/perdas-de-agua/book.pdf

Informações sobre o programa de uso racional de água da USP

http://www.pura.usp.br/

Guia de Conservação e Reuso de Água em Edifícios, ANA 2005

http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sge/CEDOC/Catalogo/2006/ConservacaoEReusoDaAguaEdificacoes.pdf

Programa de gestão de demanda de Singapura

www.teses.usp.br/teses/…/91/…/Mario_Masaru_Sakaguti_Junior_versao_revisada.pdf

https://www.researchgate.net/publication/236324174_Water_Demand_Management_in_Singapore_Involving_th e_Public?_sg=O6ezYzEPZhL1phnwgcv477XwJ7Qi1mh9-TadafjTtbqW5brDFRSiZ2OLVSWk4tkd5pSeD_I3wQ

Plano de Gestão de Demanda de Água de NYC (página em inglês)

www.nyc.gov/html/dep/pdf/…/water-demandmanagement-plan-single-page.pdf

Gestão Integrada de água

A administração municipal é responsável pela eficiência e qualidade do abastecimento de água potável, manejo de águas pluviais e saneamento de águas residuais da cidade. Estas áreas estão sendo vistas cada vez mais como uma área só, a gestão integrada do ciclo de água (Figura 35). A gestão integrada requer um planejamento de longo termo do abastecimento e saneamento de água e avaliação dos riscos atuais e futuros com relação as mudanças climáticas. Esse planejamento visa resolver as questões de abastecimento, saneamento e água pluviais. A partir de um entendimento maior do sistema local (por exemplo, se a cidade tem perdas grandes no faturamento), fica mais claro a necessidade de implementar medidas nos prédios públicos e privados do município.

Figura 35. Gestão Integrada do Ciclo de Água

Implementação

A gestão do abastecimento de água de um município e dos seus prédios públicos começa com o mapeamento do abastecimento total de água da cidade e a caracterização do consumo. Para fazer uma gestão integrada do ciclo de água é necessário a prefeitura entender a situação dos seus recursos hídricos através de seus Planos Municipais de Saneamento Básico e de estudos técnicos regulamentando os aquíferos e mananciais. Também é necessário entender a eficiência do sistema de abastecimento. O balanço hídrico na Tabela 8 abaixo foi desenvolvido pelo International Water Association no ano 2000 e é usado internacionalmente para medir e diagnosticar a eficiência de um sistema de água. A partir desta auditoria pode se compreender se existe um problema sério de perdas, ou de consumo não medido no município. Independentemente da situação do balanço hídrico da cidade, todos os prédios públicos devem ter 100% de medição do abastecimento de água e uma avaliação comparativa do seu consumo.

Tabela 8. Balanço Hídrico de um Sistema/Município. O balanço hídrico da International Water Association é usado por cidades do mundo inteiro para entender as falhas do sistema. Fonte: International Water Association

Segundo, a gestão do saneamento nos prédios públicos requer a verificação da conexão à rede coletora de esgoto. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento, a média do esgoto tratado no Brasil é de 42% do total. Por tanto, todos os prédios públicos devem estar propriamente conectados ao esgoto sanitário ou com um sistema próprio credenciado.

Terceiro, é preciso fazer a gestão de águas pluviais, (ou drenagem nas diretrizes da lei de Plano Municipal de Saneamento) através de um mapeamento de toda drenagem pluvial, drenagem de esgotos sanitários, pontos críticos para enchentes, bacias hidrográficas de drenagem e das leis de uso de solo. Cada vez mais esse planejamento visa o uso e manejo das águas pluviais dentro do município e para o consumo dos prédios.

Quarto, todo município preocupado com os seus recursos hídricos deve fazer estudos dos efeitos e riscos das mudanças climáticas. Os níveis dos oceanos estão subindo e existem modelos que demonstram a infiltração de água nas cidades costeiras devida a elevação do nível do mar por até .80. Além disso, de acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e estudos recentes da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA), as regiões de seca estão tendo mais secas e as regiões de chuva estão tendo mais chuva. Um outro efeito a ser modelado é que o aumento da temperatura global aumentará as temperaturas altas do verão. O consumo da água está correlacionado as temperaturas ambientes. Estes riscos devem ser considerados antes de qualquer planejamento de infraestrutura municipal.

Finalmente, é fundamental conduzir uma análise financeira do uso de água: As perdas de água e erros de medição são muito importantes porque podem causar perdas financeiras e ineficiências do sistema que prejudicam os investimentos e a sustentabilidade do sistema. Em média sistemas de água não deveriam perder mais do que 1013% em perdas reais do sistema, no Brasil perde-se uma média de 37% de acordo com o Instituto Trata. A partir de uma análise inicial do perfil de sistema de água de acordo com o balanço hídrico é importante fazer uma análise financeira e de acessibilidade do sistema, levantando : 1) os custos operacionais como porcentagem das receitas; 2) as taxas de água e esgoto cobradas; 3) porcentagem de consumidores de renda baixa; 4) a renda mediana dos consumidores e 5) custo total operacional e capital de saneamento dividido por km da rede de coleta. Para os prédios públicos é importante notar se a prefeitura mede e paga por todo o seu consumo, somente tem medição, ou não tem medição.

Estudo de caso nacional

Programa de Gestão Integrada das Águas e da Paisagem, Estado do Espírito Santo

O Governo do Estado do Espírito Santo obteve financiamento do Banco Mundial para investir nos municípios que integram as microrregiões do Caparaó e as Bacias Hidrográficas dos Rios Jucu e Santa Maria da Vitória, cuja abrangência contempla as principais cidades da Região Metropolitana da Grande Vitória. Ao todo, US$ 323 milhões serão aplicados no Programa de Gestão Integrada das Águas e da Paisagem, nos meios urbano e rural, com o objetivo de:

  1. Garantir que o acesso à água seja assegurado, no sentido de estar disponível em quantidade e qualidade adequada para os respectivos usos, bem como salvaguardados para sua utilização pelas futuras gerações;
  2. Ampliar a cobertura de coleta, tratamento e destinação final de esgotos sanitários em municípios das Bacias do Jucu e Santa Maria da Vitória e, na microrregião do Caparaó, em municípios de atuação da CESAN;
  3. Ampliar a cobertura florestal do Estado, na microrregião do Caparaó e adjacências e nos municípios das bacias dos Rios Jucu e Santa Maria da Vitória;
  4. Institucionalizar e promover boas práticas agrícolas e de construção de estradas vicinais para contribuir para a redução do assoreamento e poluição dos corpos d’água.

As ações dessa gestão ambiental abrangem a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos, de Planos de Bacia Hidrográficas, da estruturação da rede de monitoramento hidrológico, da gestão da Linha de Costa, cadastramento de poços de água subterrânea, e gestão de riscos de desastres e a ampliação do acesso aos serviços de esgotamento sanitário. As obras começaram em 2016.

Estudo de Caso Internacional

Gestão Integrada de Água em Singapura

Hoje a cidade/ilha/país de Singapura é vista como a cidade modelo em gestão integrada de água. Como na imagem da Figura 39 abaixo, a cidade gerencia todo o ciclo de água da Ilha para otimizar o abastecimento, consumo e saneamento de água. A cidade tem como pilar a captação de água em reservatórios locais. Através do programa “Águas Ativas, Bonitas, e Claras” a cidade otimizou os reservatórios, rios e canais para armazenar água. Investem em pesquisa e desenvolvimento para tecnologias de água porque atualmente 40% da água consumida é água usada e tratada. Mais 30% vem da dessalinização de água. Além de aumentar as fontes de abastecimento, reduzem o consumo através de programas de gestão de demanda. Nos últimos 20 anos, o governo implementou tarifas progressivas e programas para reduzir o consumo. Como resultado o consumo doméstico foi de 165 litros por pessoa por dia em 2003 para 140 litros por pessoa por dia em 2017.

Figura 36. Gestão Integrada de Água na cidade de Singapura Fonte: Agência de Serviços Públicos de Singapura (PUB).

Referências e onde encontrar mais informações

Ranking de Saneamento do Instituto Trata

http://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/itb/ranking2018/tabela-final.pdf

Gestão Integrada de Água no Espírito Santo

https://www.es.gov.br/Noticia/programa-ambiental-das-aguas-e-da-paisagem-avanca-para-mais-municipios-docaparao-e-da-regiao-serrana

http://www.cesan.com.br/investimentos/programa-de-gestao-integrada-das-aguas-e-da-paisagem-do-estado-doespirito-santo/

Gestão Integrada de Água na cidade de Singapura (página em inglês)

https://www.pub.gov.sg/watersupply/singaporewaterstory